quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Rota da Costa 2010: Dia 2

Seg, 23 de Agosto
Partida:
Barra de Mira, Mira
Chegada: Marinha Grande
Distância: +/- 104 km

Diário de Bordo: Ora, dia 2. Nomeava este dia com algo mórbido: uma viagem pelo cemitério N109. Porquê?!

Eram 7h da manhã quando acordei, no meio do nada, sem WC, chuveiros, água canalizada, etc. Depois de fazer toda a minha toilette "de campanhã", que é à base de toalhitas de bebé, parti eram 9 horas ao encontro da estrada nacional com vista a atingir Marinha Grande. O meu joelho esquerdo no dia anterior antes de me deitar, tinha ficado algo inflamado, mas já estava aparentemente recuperado.

Do lado direito moram os Pedros, do lado esquerdo moram as Marianas
Esperava uma longa viagem e como a zona compreendia uma área que já tinha feito o ano passado, temia que começasse a desmoralizar logo nos primeiros dias. Daí ter preparado na bagagem mantimentos suficiente para não ter de parar em nenhum lado, excepto para abastecer-me com água e isso fazia muito frequentemente.
A N109 é para mim a imagem de um cemitério, talvez por ser mais movimentada do que as nacionais que percorri no sul, é uma estrada que tem centenas de animais atropelados em toda a extensão que percorri, ao ponto de começar a tentar desviar o olhar, para tentar ignorar tamanho massacre. Algo terá de ser feito...
N109, Figueira da Foz,

A meteorologia previa já chuva no dia anterior, mas foi neste dia que ela apareceu. Até à Figueira da Foz, apenas ameaçou e o tempo mais ameno ajudou a pedalar com alguma celeridade. Foi aqui que a minha irmã, que viajava com amigas por vários pontos do sul, se cruzou comigo de carro, tendo-me visto apenas depois de passar por mim.

Pelo caminho e desde a Tocha, vinha sendo acompanhado por três ciclistas com bicicletas de estrada. Ora me passavam, ora eu apanhava-os cerca de meia hora ou às vezes uma hora depois quando paravam. Isto até Guia, Pombal. Ainda pouco depois da Figueira da Foz, no campo de tiro, ouvi o senhor do carro de apoio deles a dizer: "Tão a ver este?! Assim é que é! Desde Aveiro sem parar!".
O gajo que se viu à rasca para me fugir, com uma bicicleta de estrada :D
Houve um que por motivos de fadiga, lesão ou mesmo forma física em baixo, foi ficando para trás e eu na minha bicicleta pesada, com carga de cerca de 20 quilos, tentei acompanhar, chegando até a ultrapassar durante uma hora. Era uma motivação, uma forma de render o tempo, eliminando o tédio, até que numa subida esgotei totalmente toda a força que tinha em Guia, Pombal.
Recolha de resina num pinhal à entrado do concelho do Pombal
Eram já quase 7 horas a pedalar e o corpo pedia algo mais que água e barras de cereais, mas faltava ainda muito para a Marinha Grande. O meu joelho esquerdo inchou de tal maneira que distinguia-se bem do outro ao longe, e doia-me em cada pedalada, mas que fazer?! Voltar atrás?! Para quê?
A paragem de autocarros que se tornou na minha área de piquenique!
Eram 15h30 e de chuviscos, passou a chuvada e parei então numa paragem de autocarros perto de Louriçal, Pombal, face à estrada N109. Encostei a bicicleta lá dentro, tirei a latinha e o cerelac para encher a pança e matar de vez a fome "et voilá", está o estaminé armado.
O tal ceralac au l'eau, na paragem de autocarros em Guia, Pombal
Muitas reclamações e insultos no facebook depois (por ter parado por causa da "chuvinha da treta"), toca a arrepiar caminho aos 30 km que me separavam da Marinha Grande.
"Olá, Matosinhos! Olha os aviões! (...)", Base aérea n.º 5, Monte Real
Eram 17 horas e pareceu-me certo cortar caminho por Monte Real, onde pedi informação sobre o atalho. Segui então até à Base Aérea N.º 5 onde ouvi os jactos dos F16, digo eu sendo leigo, a serem testados. Começou de novo a chuviscas, mas densamente, uma carga de água se não bate, mas molha instantaneamente.
Ainda hei-de ver a história que deu o nome
Deviam ser cerca de 19h30 quando cheguei finalmente ao quartel de Bombeiros da Marinha Grande. Lá pedi e concederam-me uma estadia de luxo. Balneários, cama lavada, gelo químico para o joelho, "marabilha"! O joelho estava com aspecto medonho, com o dobro do tamanho, que me deu um andamento novo. Não, não venham meus amigos virados para brincadeira dizer que não foi de pedalar, porque foi! Já imagino as boquinhas!
Não se nota na foto, mas estava a chuvar, algures na estrada entre Monte Real e M. Grande
No quartel como de esperar, de malta voluntária que convive com o mesmo espírito, tive uma boa recepção. Com pouca dificuldade, a conversa foi saindo e a juventude de alguns membros ajudou. São momentos que fazem a viagem valer a pena - o contacto com desconhecidos.
Depois de ter feito os contactos com alguns amigos por telemóvel, o cansaço encarregou-se de me levar aos lençóis.
Quartel Bombeiros Voluntários Marinha Grande

Sem comentários:

Enviar um comentário